segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Eis-me... por Sophia!



Uma preciosidade!


Eis-me
Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és, de todos os ausentes, o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro são planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite, escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és, de todos os ausentes, o ausente.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'


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