segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Eles (os emigrantes) ... por Manuel Freire

Infelizmente actual, este canto!
Ei-los que partem
novos e velhos
buscar a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ricos ou não

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
... ou não

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

UHF e a mensagem subjacente ao som...


Ontem assisti a um concerto memorável deste grupo que comemorava os seus 35 anos de carreira.
Surpreendeu-me este Vernáculo pela clareza da mensagem


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Torga, mais uma vez...

Enquanto vigiava as provas de quatro alunos do 1º ano do Curso Profissional de Gestão, ouvi um livro chamar por mim. Libertação de 1960. Torga, Miguel Torga...

"Era uma voz que doía
mas ensinava.
Descobria,
mal o seu timbre se ouvia
no silêncio que escutava.

Paraísos, não havia.
Purgatórios, não mostrava.
Limbos, sim, é que dizia
que os sentia,
pesados de covardia,
lá na terra onde morava.

E morava neste mundo
aquela voz.
Morava mesmo no fundo
d'um poço dentro de nós."

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Gedeão ou o sonho omnipresente


Poema que imortaliza também os artífices de Cantanhede, minha terra natal!!!

Poema da Pedra de Lioz


Álvaro Gois,
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Cantanhede,
pedreiros de profissão,
de sombrias cataduras
como bisontes lendários,
modelam ternas figuras
na lentidão dos calcários.

Ali, no esconso recanto,
só o túmulo, e mais nada,
suspenso no roxo pranto
de uma fresta geminada.
Mas no silêncio da nave,
como um cinzel que batuca,
soa sempre um truca…truca…
lento, pausado, suave,
truca, truca, truca, truca,
sob a abóbada romântica,
como um cinzel que batuca
numa insistência satânica:
truca, truca, truca, truca,
truca, truca, truca, truca.

Álvaro Gois,
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Cantanhede,
ambos vivos ali estão,
truca, truca, truca, truca,
vestidos de sunobeco
e acocorados no chão,
truca, truca, truca, truca.

No friso, largo de um palmo,
que dá volta a toda a arca,
um cristo, de gesto calmo,
assiste ao chegar da barca.
Homens de vária feição,
barrigudos e contentes,
mostram, no riso dos dentes
o gozo da salvação.
Anjinhos de longas vestes,
e cabelo aos caracóis,
tocam pífaros celestes,
entre cometas e sóis.
Mulheres e homens, sem paz,
esgaseados de remorsos,
desistem de fazer esforços,
entregam-se a Satanás.

Fixando a pedra, mirando-a,
quanto mais o olhar se educa,
mais se estende o truca…truca…
que enche a nave, transbordando-a,
truca, truca, truca, truca
truca, truca, truca, truca.

No desmedido caixão,
grande senhor ali jaz.
Pupilo de Satanás?
Alma pura, de eleição?
Dom Afonso ou Dom João?
Para o caso tanto faz.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Chuva por Mariza

Um poema de Jorge Fernando divinamente cantado por Mariza! Obrigada, Fernanda, por me teres falado desta canção...


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A fábula da fábula por Miguel Torga

Um pequeno enigma para os meninos do 5º ano: no poema seguinte, a que fábula faz alusão Miguel Torga?

Era uma vez
uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insetos
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E, realmente…
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.

Miguel Torga
Diário VIII,1956

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Trova do Vento que passa de Manuel Alegre

Uma versão curta mas perfeita, cantada e tocada num local perfeito, por vozes e músicos geniais! Cá vai todo o poema...
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
o vento nada me diz.

La-ra-lai-lai-lai-la, la-ra-lai-lai-lai-la, [Refrão]
La-ra-lai-lai-lai-la, la-ra-lai-lai-lai-la. [Bis]

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

[Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Esteiros de Soeiro Pereira Gomes 1941

"Para os filhos dos homens que nunca foram meninos": Uma lição esquecida por muitos de nós, filhos de homens a quem não foi permitido serem meninos! A série Grandes Livros sobre os Esteiros é um trabalho excepcional! Aconselho vivamente!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Frágil por Jorge Palma

Estar frágil com estilo...
Põe-me o braço no ombro
Eu preciso de alguém
Dou-me com toda a gente
Não me dou a ninguém
Frágil
Sinto-me frágil

Faz-me um sinal qualquer
Se me vires falar demais
Eu às vezes embarco
Em conversas banais
Frágil
Sinto-me frágil

Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil

Está a saber-me mal
Este Whisky de malte
Adorava estar "in"
Mas estou-me a sentir "out"
Frágil
Sinto-me frágil

Acompanha-me a casa
Já não aguento mais
Deposita na cama
Os meus restos mortais
Frágil
Sinto-me frágil

Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil

domingo, 8 de setembro de 2013

Até ao Verão - Ana Moura

Na quase despedida do Verão, a saudade já bate... e ouve-se esta linda canção escrita e musicada por Márcia Santos!
Deixei
na Primavera o cheiro a cravo
rosa e quimera que me encravam na memória que inventei

e andei
como quem espera
pelo fracasso
contra mazela em corpo de aço
nas ruelas do desdém

e a mim que importa
se é bem ou mal
se me falha a cor da chama a vida toda
é-me igual

vi sem volta
queira eu ou não
que me calhe a vida
insane e vossa em boda
até ao verão

deixei na primavera o som do encanto
riça promessa e sono santo
já não sei o que é dormir bem

e andei pelas favelas
do que eu faço
ora tropeço em erros crassos
ora esqueço onde errei

e a mim que importa
se é bem ou mal
se me falha a cor da chama a vida toda
é-me igual

vi sem volta
queira eu ou não
que me calhe a vida
insane e vossa em boda
até ao verão

e a mim que importa
se é bem ou mal
se me falha a cor da chama a vida toda
é-me igual
vi sem volta
queira eu ou não
que me calhe a vida
insane e vossa em boda
até ao verão

deixei na primavera o som do encanto

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Virgem Suta - Maria Alice

Um vídeo bem conseguido, uma letra bem popular e uma música que fica no ouvido e nos lábios|
Maria Alice vive só com os seus gatos
Não tem família para lhe fazer companhia
mora no sétimo andar
no bairro do Ultramar
casa comprada com herança de uma tia

Maria Alice ficou órfã muito nova
criou a pulso dois irmãos de tenra idade
não soube o que é ser criança
nunca teve esperança
até que um dia a vida mostra-lhe a cidade

oioai a vida foi-lhe madrasta
oioai só por ser de fraca casta aiai
oioai mas rafeiro é osso duro
de roer e a Alice fez-se mulher

oioai a vida foi-lhe madrasta uiui
oioai só por ser de fraca casta aiai
oioai mas rafeiro é um seguro
de roer e a Alice fez-se mulher (bis)

Maria Alice enveredou pelas limpezas
e nem nas folgas se livrava do trabalho
por mais que ela se esforçasse
e mais dinheiro ganhasse
o fim do mês era um problema sem amanho

Maria Alice aliciada por madames
que garantiram dar-lhe vida bem melhor
largou vassouras e pás
e a vida triste pra trás
e em pouco tempo era amante de um doutor

oioai a vida foi-lhe madrasta
oioai só por ser de fraca casta aiai
oioai mas na feira é osso duro
de roer e a Alice fez-se mulher

oioai a vida foi-lhe madrasta uiui
oioai só por ser de fraca casta aiai
oioai mas rafeiro é osso duro
de roer e a Alice fez-se mulher

E um belo dia já fartinha da má vida
desejosa de parar com a folia
fintou do touro bem moço
e sem baixar o pescoço
fê-lo assumir a relação de que fugia

Nesse momento o mundo escancarou-lhe as portas
ela sedenta fez de tudo o que queria
mas o destino, a má sorte
mudaram de novo o norte
e o seu doutor partiu sem avisar um dia

oioai a vida foi-lhe madrasta uiui
oioai só por ser de fraca casta aiai
oioai mas rafeiro é osso duro de roer
e a Alice fez-se mulher

oioai a vida foi-lhe madrasta uiui
oioai só por ser de fraca casta aiai
oioai mas rafeiro é osso duro
de roer e a Alice fez-se mulher

Oioai ...Oioai....

sábado, 31 de agosto de 2013

José Mário Branco canta e Sérgio Godinho compôs

Da cada vez que conheço uma Marta lembro-me desta deliciosa canção!
Chamava-se ela Marta
Ele Doutor Dom Gaspar
Ela pobre e gaiata
Ele rico e tutelar
Gaspar tinha por Marta uma paixão sem par
Mas Marta estava farta mais que farta de o aturar
- Casa comigo Marta
Que estou morto por casar
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo, deixa-me da mão

Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
Tenho talheres de prata
Que estão todos por lavar
Tenho um faisão no forno e não sei cozinhar
Camisas, camisolas, lenços, fatos por passar
- Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão

Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
Tenho uma cama larga
Num dos meus apartamentos
Tenho ouro na Suíça e padrinhos aos centos
Empresto e hipoteco e transacciono investimentos
- Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão

Casa comigo Marta
Tenho rédeas p´ra mandar
Tenho gente que trata
De me fazer respeitar
Tenho meios de sobra p´ra te nomear
Rainha dos pacóvios de aquém e além mar
- Casas comigo Marta
Que eu obrigo-te a casar
- Casar contigo, não maganão
Só me levas contigo dentro de um caixão

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Solidão por Vinícius de Moraes


A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Telepatia por Lara Li

A melhor versão de sempre, um mergulhar no passado...escrita por Ana Zanatti e musicada por Nuno Rodrigues em 1981!
Telepatia
Silêncio calma
Feitiçaria
Da tua alma

Passo a passo
Sem ter medo
Abrimos, soltámos
O nosso segredo

E a sorrir
Devorámos o mundo
Num abraço
Tão profundo

Telepatia
Sem contratempo
Deixei-te um dia
Num desalento
E eu sonhava
Existia
Pra sempre pra sempre
Foi pura poesia

Sem pensar
Não vi que passavas
Pelo meu corpo
Não ficavas

Telepatia
(falado)
Minha querida eu soube sempre
Eu já sabia que te ia conhecer
Minha querida era fatal
Fiz tanta força
Para isto acontecer
És tão bonita meu amor
Eu não te queria perder
Já sei, adivinho
O que estás a pensar
Vim do outro lado do mar
Talvez um dia volte, não sei
Mas penso em ti, acredita
Adivinhei-te em segundos
Quando jurámos eternidade

E a sorrir
Devorámos o mundo
Num abraço
Tão profundo

Telepatia
Silêncio calma
Feitiçaria
Da tua alma

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Teresa Salgueiro, a diva...

Cantando uma canção tradicional da Beira Baixa, uma voz límpida
Senhora, Senhora do Almortão
Senhora do Almortão
Ó minha linda raiana
Virai costas, virai costas a Castela
virai costas a Castela
Não queiras ser castelhana.

Senhora, Senhora do Almortão
Senhora do Almortão
A vossa capela cheira
Cheira a cravos
Cheira a cravos, cheira a rosas
Cheira a cravos, cheira a rosas
Cheira a flor de laranjeira.

Senhora, Senhora do Almortão
Senhora do Almortão
Eu pró ano não prometo
Que me morreu
que me morreu um amor
Que me morreu um amor,
ando vestida de preto.

Senhora do Almortão,
Ó minha linda raiana
Virai costas a Castela
Não queiras ser castelhana.

Senhora do Almortão,
a vossa capela cheira,
cheira a cravos, cheira a rosas
cheira a flor de laranjeira.

Senhora do Almortão,
eu pró ano não prometo
que me morreu um amor,
ando vestida de preto.

Olha a laranjinha que caiu, caiu
lá debaixo de água, nunca mais se viu... (...)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Ary dos Santos por Susana Félix

Numa versão fantástica...
De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei.

Sei dos teus olhos acesos na noite
- sinais de bem despertar –
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar.
Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo pode acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer.

Irei beber em ti
O vinho que pisei
O fel do que sofri
E dei

Dei do meu corpo um chicote de força.
Razei com meus olhos com água.
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas alarguei cidades
E construí poetas

E nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não logrei
Mas quis.

Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo há-de acender
Uma fogueira de sol e de fúria
que nos verá nascer
Então
Nem choros
nem medos
nem uivos
nem gritos
nem pedras
nem facas
nem fomes
nem secas
nem feras
nem ferros
nem farpas
nem farsas
nem forcas
nem cardos
nem dardos
nem guerras

Agustina Bessa-Luís novamente...

Na primeira pessoa e descrita por familiares e amigos. Um documentário onde se reconhecem pormenores, personagens, ambientes retratados nos seus livros, em especial n'A Sibila.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Agustina Bessa-Luís e a mulher...

Há uns dias voltei a ver o filme Vale Abraão e percebi que a força do filme está sobretudo na riqueza das personagens criadas pela escritora. Tive saudades de um livro magnífico, que li três vezes seguidas, e que resolvi, agora mesmo, ler novamente!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Isabel Silvestre e Rui Reininho

A perfeição de duas vozes que não se imaginariam juntas!


Há um prenúncio de morte
Lá do fundo de onde eu venho
Os antigos chamam-lhe renho
Novos ricos são má sorte

É a pronúncia do Norte
Os tontos chamam-lhe torpe
Hemisfério fraco outro forte
Meio-dia não sejas triste
A bússula não sei se existe
E o plano talvez aborte

Nem guerra, bairro ou corte
É a pronúncia do Norte
Corre um rio para o mar

Corre um rio para o mar
E há um prenúncio de morte

Não tenho barqueiro nem hei-de remar
Procuro caminhos novos para andar
Tolheste os ramos onde pousavam
Da Geada as pérolas as fontes secaram

Corre um rio para o mar
E há um prenúncio de morte

E as teias que vidram nas janelas
esperam um barco parecido com elas
Não tenho barqueiro nem hei-de remar
Procuro caminhos novos para andar

E É a pronúncia do Norte
Corre um rio para o mar

terça-feira, 23 de julho de 2013

David Mourão-Ferreira e o fluir da palavra...


A Secreta Viagem

No barco sem ninguém, anónimo e vazio,
ficámos nós os dois, parados, de mão dada...
Como podem só dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!

Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornamo-nos reais, e de madeira, à proa...
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos...
Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa...

Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem...
Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado,
se justifica, enflora, a secreta viagem!

Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa, passa... alheio aos meus sentidos.
— Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,
a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!

David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A Caldeirada por Amália Rodrigues

Um fado inesperado!
Em vésperas de caldeirada, o outro dia,
Já que o peixe estava todo reunido,
Teve o guraz a ideia de falar à assembleia,
No que foi muito aplaudido

Camaradas: principia a ordem do dia!
É tudo aquilo que for poluição,
Porque o homem, que é um tipo cabeçudo,
Resolveu destruir tudo, pois então!

E com tal habilidade e intensidade
Nas fulguranças do génio,
Que transforma a água pura numa espécie de mistura,
Que nem tem oxigénio

E diz ele que é o rei da criação!
As coisas que a gente lhe ouve e tem que ser!
Mas a minha opinião, diz o pargo capatão,
Gostava de lha dizer!

Pois se a gente até se afoga!
Grita a boga, por o homem ter estragado o ambiente!
Dar cabo da criação, esse pimpão,
Isso não é decente!

Diz do seu lugar: tá mal!, o carapau,
Porque, por estes caminhos,
Certo vamos mais ou menos ficando todos pequenos,
Assim como "jaquinzinhos"

Diz então o camarão, a certa altura:
Mas o que é que nós ganhamos por falar?
Ó seu grande camarão, pergunta então o cação,
Você nem quer refilar?

Se quer morrer, diz a lula toda fula,
Com a mania da cerveja e dos cafézes,
Morra lá à sua vontade, que assim seja!,
Para agradar aos fregueses!

Diz nessa altura a sardinha prá taínha:
Sabe a última do dia? A pescadinha, já louca,
Meteu o rabo na boca,
O que é uma porcaria!

Peço a palavra! gritou o caranguejo,
Eu, que tenho por mania observar,
Tenho estudado a questão e vejo a poluição
Dia e noite a aumentar

Cai do céu a água pura
E a criatura pensa que aquilo que é dele é monopólio.
Vai a gente beber dela e a goela
Fica cheia de petróleo!

A terra e o mar são para o cidadão
Assim como o seu palácio.
Se um dia lhe deito o dente
Parto tudo de repente ou eu não seja crustáceo!

É um tipo irresponsável, grita o sável,
O homem que tal aquele!
Vai a proposta prá mesa: ou respeita a natureza,
Ou vamos todos a ele!

domingo, 14 de julho de 2013

Portugal de Alexandre O´Neill

Lindo!

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloqial, a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado, feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

Alexandre O'Neil,
in "Feira Cabisbaixa", 1965

terça-feira, 9 de julho de 2013

E-Photo magazine Fotomaníacos nº8

Descoberta do dia...



O grupo de fotografia do facebook, Fotomaníacos, divulga trimestralmente a revista virtual Photo Magazine Fotomaníacos. Procura-se fomentar o gosto pela fotografia e partilhear trabalhos de autores profissionais e todos os apaixonados por esta arte, ou seja, amadores no verdadeiro sentido da palavra!



segunda-feira, 8 de julho de 2013

quinta-feira, 4 de julho de 2013

António Variações ... pelos Humanos

Quero é viver!
Vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver

Amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será
mais um prazer

e a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com a idade
interessa-me o que está para vir
a vida em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar, vou fugir ou repetir

vou viver,
até quando, eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver
amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será mais um prazer

a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com idade
interessa-me o que está para vir
a vida, em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar vou fugir ou repetir
vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver,
amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será mais um prazer

domingo, 23 de junho de 2013

segunda-feira, 17 de junho de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

Carta aberta ao professor Nuno Crato

Uma magnífica carta que descreve muitíssimo bem aquilo que todos os professores sentem... Bem haja João A. Moreira! "Caro Professor Nuno Crato, Acredite que é com imenso desgosto que lhe escrevo esta carta aberta. Habituei-me, durante anos, a ler e a concordar com o muito que foi escrevendo sobre o estado do ensino em Portugal. Dos manuais desadequados à falta de exames capazes de avaliar o real grau de aprendizagem dos alunos; do laxismo instituído à falta de autoridade dos professores; do absoluto desconhecimento do que se passava nas escolas, por parte do Ministério da Educação à permanente falta de materiais e condições nas escolas. Durante anos, também eu me revoltei com a transformação da escola pública em laboratório de experiências por parte de políticos, pedagogos e supostos especialistas em educação. Foi por isso com esperança que me congratulei com a sua nomeação para Ministro da Educação do actual governo. Por isso, Professor Nuno Crato, me surpreende que, à semelhança dos seu antecessores, não tenha sido capaz de resistir à tentação de transformar os seus colegas de profissão nos maus da fita, mandriões, calaceiros, incapazes de trabalhar míseras 40 horas por semana. Surpreende-me e entristece-me. Sabe, Professor Nuno Crato, sou filho de professores e durante a minha infância e adolescência habituei-me a compartilhar o meu tempo, os meus livros, os meus cadernos e muitas vezes o meu almoço e o meu lanche, com os milhares de crianças que, ao longo de anos de esforço e dedicação, eles ajudaram a educar pelas aldeias mais recônditas do nosso país. Habituei-me a aguardar pacientemente a sua chegada tardia, os trabalhos para corrigir, as aulas para preparar, para que restasse um pedaço de tempo para uma história, uma conversa, um mimo. Nunca lhes pressenti na expressão uma nota de arrependimento, antes de felicidade, por um trabalho que adoravam fazer e que eu adorava que fizessem. E, não imagina o orgulho que sentia quando nos cruzávamos com muitos dos seus ex-alunos e lhes via no rosto uma expressão doce de eterna gratidão - Se não tivesse sido o Senhor Professor ...não sei o que teria sido de mim! Depois, casei-me com uma professora e voltei a ter de me habituar a compartilhar o meu dia-a-dia, o meu computador, os meus tinteiros, os meus dossiers, o meu papel, as minhas canetas, com milhares de outras crianças e adolescentes. Voltei a ter de me habituar a aguardar a sua chegada tardia, os trabalhos para corrigir, as aulas para preparar. Com a diferença de agora, a tudo isso, se somarem milhares de páginas de legislação para ler, a grande maioria escrita num português que envergonharia os meus pais e grande parte dos seus ex-alunos; dezenas de relatórios para redigir; novas metodologias de ensino para estudar; manuais diferentes de ano para ano para analisar; telefonemas para pais de alunos problemáticos a efectuar; acompanhamento de alunos com dificuldades, reuniões de pais, reuniões de avaliação, reuniões de preparação, reuniões de grupo, assembleias de escola, visitas de estudo, estudo acompanhado, aulas de substituição, vigilância de exames. Confesso que ao longo dos anos, fui conseguindo roubar à escola, um pouco de tempo para mim. Mas, mesmo desse tempo roubado a custo, muito era passado a falar da desmotivação generalizada causada pelo desleixo, pela falta de objectivos, pela ausência de meios, pela violência, pela falta de autoridade, enfim, por tudo aquilo que o Professor Nuno Crato tão bem descrevia nas suas análises. Durante estes muitos anos a viver com professores, nunca me passou pela cabeça perguntar-lhes quantas horas trabalhavam. Mas, fazendo um esforço de memória, sou capaz de contabilizar os milhares de horas que o seu trabalho para a escola roubou à minha família. Os milhares de refeições em conjunto que não se realizaram, os milhares de conversas que não pudemos ter, os milhares de madrugadas passadas em claro, os milhares de filmes que não vimos juntos, os milhares de musicas que não ouvimos, os milhares de livros que não lemos, os milhares de passeios que não demos. Não sei se esses milhares e milhares de horas perfazem as tão badaladas 40 horas de trabalho por semana que agora se discutem, mas sei que se fosse professor estaria a favor dessas 40 horas de trabalho semanais, desde que realizadas integralmente na escola, sem nunca mais, ter de trazer trabalho para casa, de gastar uma gota de tinta do tinteiro da minha impressora, de ocupar um byte de memória do meu computador, de usar uma folha da minha resma de papel, de ocupar a minha sala com trabalhos de alunos, de perder as minhas noites, os meus fins-de-semana, os meus dias de descanso com a preparação de aulas, reuniões ou relatórios. Se assim for, pelo menos, numa coisa os professores passarão a ser efectivamente iguais a todos os outros funcionários públicos, que deixam o seu trabalho e os seus problemas laborais na porta de saída da repartição. Infelizmente não acredito que assim seja e o que acontecerá é que os milhares de professores, mal pagos, mal amados, maltratados, continuarão a acumular às 40h que agora se pretendem instituir, milhares e milhares de horas de trabalho gratuito roubadas às suas famílias, ao seu descanso, ao seu lazer, pelo simples motivo de se orgulharem de ensinar e não permitirem que os mesmos políticos, pedagogos e supostos especialistas em educação instalados no Ministério há anos, destruam a essência da sua profissão. Caro Professor Nuno Crato, é por isto que os seus colegas de profissão estão em greve e não entender isto é não entender nada sobre educação. Por isso, não se admire se um destes dias forem eles a fazer aquilo que o professor tanto prometeu, mas não teve coragem de cumprir: implodir o Ministério da Educação em defesa da educação em Portugal."

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O desejo de...


Ah, quanta vez, na hora suave
Em que me esqueço,
Vejo passar um vôo de ave
E me entristeço!

Por que é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Por que vai sob o céu aberto
Sem um desvio?

Por que ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?
Sei que me invade

Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia
Meu coração, e entorna sobre
Minh’alma alheia

Um desejo, não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei quê do vôo suave
Dentro em meu ser.

( Fernando Pessoa )

Fernando Pessoa e Maria Bethânia... sem papas na língua!

Tão actual !

Certificação CAPLE

Para os alunos de Português Língua Estrangeira que queiram continuar a certificação para níveis superiores ao A2, cá vai o endereço do sítio: http://blogs.ua.pt/forlinguas/?page_id=152

quarta-feira, 29 de maio de 2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A minha leitura do momento!



Mais uma descoberta que estou a saborear! É o que os livros têm de melhor: surpreender-nos!

Pedro Alecrim - Ficha de verificação de leitura

Meninos do 5º A, lembrem-se que a ficha de verificação de leitura é já no dia 27 de maio! Vamos ler ou reler com atenção, certo?

 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Fausto e o Oriente

O Barco vai de saída

Video incorporado Filipe

O Filipe com o Stilton na Feira do Livro




Florbela Espanca, a sonhadora...

Vozes do mar

 Quando o sol vai caindo sobre as águas
 Num nervoso delíquio d’oiro intenso,
 Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?

… Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?

Tens cantos d’epopeias? Tens anseios
D’amarguras? Tu tens também receios,
 Ó mar cheio de esperança e majestade?!

 Donde vem essa voz, ó mar amigo?…
 … Talvez a voz do Portugal antigo,
 Chamando por Camões numa saudade!

 Florbela Espanca - Trocando olhares - 17/06/1916

Pequenos filmes

Na Feira do Livro no Rossio




terça-feira, 16 de abril de 2013

sábado, 13 de abril de 2013

O dia do Terramoto - Ficha de verificação e de compreensão da leitura

Esta ficha vem na sequência da leitura do livro "O dia do Terramoto", realizada durante as férias da Páscoa.


Mia Couto, o criador de palavras...


Perguntas à língua portuguesa*


   Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.
A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões? Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.
Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.
No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.
Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?
Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas? Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua:
Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?
• A diferença entre um ás no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética?
• O mato desconhecido é que é o anonimato?
• O pequeno viaduto é um abreviaduto?
• Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
• Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
• Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
• Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
• O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
• Onde se esgotou a água se deve dizer: "aquabou"?
• Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
• Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
• Mulher desdentada pode usar fio dental?
• A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
• As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: "finanças"?
• Um tufão pequeno: um tufinho?
• O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
• Em águas doces alguém se pode salpicar?
• Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
• Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
• Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
• Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?
Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós. Colocámos essoutro português – o nosso português – na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.
Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas – o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos. Devolver a estrela ao planeta dormente.

* Texto escrito especialmente para o Ciberdúvidas.

Pedro Barroso, o trovador ...


Quando a Europa existir
E o velho escudo das quinas
for apenas uma saudade
nesse dia hei-de subir
ao castelo de Penedono
e gritar uma saúde
ao tempo de nunca vir
mais ao tempo de lembrar
hei-ir ao Restelo contar
histórias de marinheiros
falar aos jovens de Alcácer
de Gonçalo Mendes da Maia
Jerumenha, Évoramonte
Aljubarrota, Atoleiros

Hei-de subir aos penhascos,
às torres de Marialva,
à menagem de S Jorge,
de Belver e Guimarães
e recordar outra vida,
outro país que já houve
de gente dada à bravura
que ao Sul criou espaços
na conquista da planura
gente com alma e com espada
e artes de marear
e hei-de ficar cansado
mas hei-de ficar saciado
nesse espaço fabuloso
recriado do passado
em sonho particular

esquecido da tal verdade
corridos trinta ou cem anos
Estados Unidos da Europa
país novo e florescente
tal me orgulha e me transcende...
- Ah! Mas nunca me arrepende
ter feito Alcácer Quibir
ou batalha do Salado
com o estandarte entre dentes!...

Nesse dia, em mirandum
cantarei ao desafio
navegarei pelo Douro
até ao fim desse rio
onde brindarei com Porto
e perdido na montanha
beberei águas de fonte
da pátria de Portugal
e serei europeu, sim
serei até, mundial
mas primeiro,
vai uma alheira
do fumeiro de Mirandela;
moreia frita de Sagres;
cozido ilhéu na panela;
e as amêijoas de S Jorge;
as bananas da Madeira;
os verdes do velho Minho;
os cavalos do Ribatejo
mais as camisas de linho;
e o cante do Alentejo;
e este mar frente a Lisboa,
onde a ralé marinheira
canta o fado cacilheiro
e atraca corpo e navio
em romances de inventar

Levem a fama, a bandeira
levem o nome e o preito
quem vai mandar no meu peito
vai ser o nome esquecido
de um velho país ao canto
desse novo Espaço Unido
onde tudo, campo e praia
ao falar-nos do passado
vai falar-nos dum Futuro
outra vez por restaurar

Portugal era seu nome.
- Crianças desse reinado
aprendam a soletrar...

Existiu na sua Língua
nos seus artistas e heróis
nos pensadores e no mar.
Já foi um país inteiro
de palavras e aventura
e se então, nesse lameiro
de Babel no linguajar,
nos obrigarem ao sonho
embalado na censura,
empacotado e vulgar,
que me sobre essa loucura
de ir para a rua gritar,
nesta língua de Camões,
pelo tempo que há-de vir
no país que não morreu
no país que há-de voltar !

Falava quem tanto sabia!




 
"O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive."

 Padre António Vieira
Miguel Torga
 
 
Mar!
Tinhas um nome que ninguém temia:
Eras um campo macio de lavrar
Ou qualquer sugestão que apetecia...

Mar!
Tinhas um choro de quem sofre tanto
Que não pode calar-se, nem gritar,
Nem aumentar nem sufocar o pranto...

Mar!
Fomos então a ti cheios de amor!
E o fingido lameiro, a soluçar,
Afogava o arado e o lavrador!

Mar!
Enganosa sereia rouca e triste!
Foste tu quem nos veio namorar,
E foste tu depois que nos traíste!

Mar!
E quando terá fim o sofrimento!
E quando deixará de nos tentar
O teu encantamento!
in "Poemas Ibéricos"

sábado, 6 de abril de 2013

Clã - Ser (Português)


É esta a ideia... vamos ouvir?

 
 
 
Se pensas que é agora a tua vez, e não vês que és
100 % português, 100% impossível de vencer
o tão dotado, infalível, o mercado estrangeiro
vem de fora - "É verdadeiro!?"
Até o velho 1, 2, 3, 4 passa a ser
one, two, three, four
E depois, não há tempo p'ra aprender
que nem sempre (sem saber) o movimento vem de fora
vem de toda a volta, fura a toda a volta
vem de barco, avião, comboio, imitação
entretanto vai andando, costumado
o povo português, vai perdendo a sua vez
Sê português, encontra a tua vez
Ser português, ser contra a tua vez
E pensas que é agora que a historia vai mudar
o artista Luso-Qualquer Coisa vai dançar
mas mesmo que não caia, vai ser sempre comparado
ainda bem não está parado é um valor acrescentado
Ainda há muito a fazer por esta causa a rever
rever independentemente como pode ser
como pode ser expressa essa nova novidade
de ser português e ter a sua vez
Sê português, encontra a tua vez
Ser português, ser contra a tua vez
Vai haver um sol nascente na Nação, vai haver, vai haver
Se pensas que é agora a tua vez, e não vês que és
100% português, 100% impossível de vencer
o cobiçado infalível, o produto importado
chega e já tem mercado
Até o velho 1, 2, 3, 4 passa a ser, quer ser
one, two, three, four
E depois, ninguém quer saber
que nem sempre o movimento vem de fora
Vai haver um sol nascente na Nação, vai haver, vai haver