terça-feira, 25 de março de 2014

Cartas a Portugal de Pedro Barroso

Mais uma vez, a eterna história que parece estar entranhada no nosso destino... a emigração!



Notei pelos sítios fora,
nos abraços que me davam
malta daqui e de agora,
daqueles que não voltavam.

Eram homens e mulheres
de muitos anos ou não
feitos Portugal de novo
na escuta de uma canção

(Refrão)
Mas lugar, precisa-se
Para albergar esta nação...
Lugar, lugar, precisa-se
Para receber e entender esta multidão.

Não sei onde, sessenta e tal.
Para fugir naquela altura
Deixei filhos e mulher,
o pai, a mãe e o irmão.
Passei vida muito dura
a pensar neles, lá longe,
as saudades a roer
aqui dentro, não sei onde,
mas perto do coração.

(Refrão)

Paris, mil novecentos e setenta e dois,
e eu, eu sou o Antunes
pedreiro de profissão.
Na terra, aquilo não dava nada,
mal pagava o próprio pão...
As forças vão indo fracas
que isto do "bâtiment" é muito duro!
Vivo pior do que... do que um cão,
passa-se mal nas barracas...

(Refrão)

Bruxelas, mil novecentos e setenta e três.
Eu cá, chamo-me Augusto
e vim para aqui da Beira Baixa
e um dia, pensei comigo:
- Isto, agora, ou vai ou racha!
E agarrei na mala pobre,
carteira lisa e um pão,
vim de salto e aqui estou.
Trabalho com um camião...

(Refrão)

Neimegan, mil novecentos e setenta e cinco.
Eu, por acaso, até estou bem.
Mulher e filhos, tudo, tudo felizmente.
Só tenho uma coisa na vida
que me faz sentir doente:
é a lembrança lá da aldeia,
do meu sol, do meu rincão,
dos outeiros, das ribeiras,
de tudo o que aqui não tenho, não...

(Refrão)

Somos muitos mil no mundo
com uma história sempre igual
de trabalho e, lá no fundo,
saudades de Portugal...
de trabalho e, lá no fundo,
Saudades de Portugal!

Mas lugar... precisa-se!

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